A cultura do narcisismo
- Aracelly Castelo Branco
- 16 de set. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de dez. de 2023
Você já ouvir falar em “a cultura do narcisismo”?
Neste texto quero propor uma breve reflexão sobre a cultura do narcisismo, a partir de alguns estudos do final do século XX, especialmente a partir da obra do autor Christopher Lasch que faz uma análise do narcisismo contemporâneo como um fenômeno social e cultural. O autor discute sobre uma crise cultural que nomeia como “revolução cultural”, pois considera que cada época desenvolve suas formas particulares de patologias de acordo com o contexto sociocultural.

Nas últimas décadas um novo perfil surge buscando atendimento psicológico e psiquiátrico, se tornando uma nova e crescente demanda de atendimento. Esta pessoa descreve experiências de vazio e depressão, uma incapacidade de progredir em sua vida de uma maneira geral, grandes oscilações de autoestima, sentindo esta aumentada apenas em situações em que se liga a figuras fortes e admiradas, de quem ela deseja aceitação e necessita se sentir apoiada. Geralmente, este perfil apresenta hipocondria e a queixa de uma sensação de vazio interior, ao mesmo tempo alimentando suas fantasias de onipotência e acreditando na sua permissividade em explorar os outros e ser por eles gratificado.
O narcisismo enquanto fenômeno social
Diante das descrições desta patologia, podemos pensar no narcisismo enquanto fenômeno social, através da clara identificação e reconhecimento destes traços no cenário cultural contemporâneo, onde encontramos em muitas pessoas, por exemplo, habilidade em administrar as impressões que transmitem aos outros, grande desejo de admiração, apesar de desprezar aqueles que manipula para estes fins, imensa vontade de ter experiências emocionais que possa, preencher o vazio interior que sente, e o pavor pelo envelhecimento e a morte.
O narcisista depende dos outros para obter aprovação e admiração e embora precise se ligar a alguém, possui grande medo de dependência emocional; sendo explorador e manipulador nas relações pessoais, o narcisista as torna superficiais e insatisfatórias. Outro aspectos importante é a sua incapacidade de se identificar com alguém, sem que o veja como uma extensão de si mesmo, eliminando a identidade do outro.
Considerando a hipótese de que novas formas sociais demandam novas formas de personalidade e socialização, o conceito de narcisismo nos possibilita compreender, em grande parte, a considerável transformação psicológica das mudanças sociais nas últimas décadas, considerando suas variações desde o nível de normalidade até o patológico. A partir destas considerações, o narcisismo serve como uma estratégia de sobrevivência na atualidade. Posteriormente, Lasch se refere a “cultura do narcisismo” como a “cultura do sobrevivencialismo”, para o autor as condições sociais que prevalecem são capazes de trazer à tona os nossos traços narcisistas, que todos possuímos em vários graus.
Desta forma, podemos pensar que as mudanças sociais e consequentemente subjetivas que ocorreram ao longo do século XX, conduziram ao desenvolvimento de uma cultura narcisista, em que o fenômeno do individualismo aponta para o grande conteúdo narcísico nas sociedades atuais. Assim, a pessoa se torna fragmentada em diversos, aspetos, à medida que o individualismo se fortalece e a subjetividade se fragiliza cada vez mais.
À medida que o mundo atual é percebido como um lugar extremamente ameaçador, a busca pela sobrevivência no ambiente faz com que o indivíduo se arme de mecanismos de defesa na relação para se proteger do que o contato com o outro pode nele evocar.
Escreva nos comentários suas observações, questionamentos sobre esta reflexão!
Referência
Lasch, Christopher (1983). A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago.
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